FICÇÕES DO CORDEL
TERÇA-FEIRA,
2 DE SETEMBRO DE 2008
Esta é a pedra-mãe desta Casa.
Sobre ela se construiu a Casa, e é o que resta do que foi a Casa. Como era.
Agora, nesta manhã, nela se espreguiça a sombra das ripas da janela,
trazida pelo sol ainda nascente.
Por esta pedra, soleira de todas as portas, sempre se entrou para a Casa,
sempre se saiu da Casa.
No começo de tudo, com serventia para os currais e para o forno, para se ir
dar a comida ao gado, para fazer uma merendeira; para se sair a labutar na
fazenda, enxada às costas, para a ela se regressar, corpo cansado, ao som das
avé-marias.
Quanto pé descalço a pisou, a afeiçoou!
Teve por companhia tábuas de solho, que com ela se juntavam, agora são
quadrados de tijoleira que se ajustam aos seus irregulares contornos.
A porta já não é a da fundação, de madeira robusta e gateira para os gatos
virem caçar os ratos que abundavam; as paredes foram rebocadas e parecem, por
isso, outra coisa que não o que foram.
Esta é a pedra! Não a bíblica mas o assentamento de tudo que é esta
Casa. Aqui nasceu meu pai. Aqui, naturalmente, morro aos poucos, um dia de cada
vez, vivendo a alegria de estar vivo e de saber porquê e porquê com quem.
Nesta pedra gosto de me sentar, a atirar a vista e o pensamento pelos
verdes lá de fora e dos longes.
Desta Casa gosto de falar. E sou feliz por não ser só eu, e haver quem o
faça de outra maneira, com outros olhos, com outro sentir igual ao meu. Com o
igual sentir que há um encanto, uma magia, uma ternura. Um estar bem.
Esta é a pedra!
COMENTÁRIO (como justine)
E assim nos
completamos: tu com os primórdios, eu com aquilo que a sorte me deu a viver.
E assim nos misturamos: olhando na mesma direcção, neste cair de tarde das nossas vidas. Com uma grande alegria (para não dizer imensa...)
E assim nos misturamos: olhando na mesma direcção, neste cair de tarde das nossas vidas. Com uma grande alegria (para não dizer imensa...)
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